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O DIA PERDIDO? (texto de Josette Lassance) PONTEVEEDRA, ESpanha – JULHO DE 2017 SUBI AS PRIMEIRAS escadas ofegante. A mala leve com poucos pertences me trazia a um mundo leve, mas não havia certezas. Meu único deleite seria olhar para a mala velha que carregava com muito gosto, minhas poucas roupas e alguns cadernos. Na surrada bolsa de mão, duas canetas, o passaporte e uma divertida coleção de isqueiros. Mas não fumava. Não acreditava na crença do charme de que toda mulher moderna deveria fumar. Apesar, havia vontades estranhas em carregar algo forte e ancestral, como o domínio do fogo. Dobrei a rua após uma grande subida e uma rotatória. Ponteveedra parecia maior que os mapas conferidos. Olhei para trás e vi o que deixei, uma visão de dupla partida: a rodoviária e a estação de trem. Não compreendi o porquê da moça – a vendedora de passagens da empresa ALSA, ainda faltando exatos 15 minutos para fechar sua minúscula cabina de vendas, refrigerada por um ventilad
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POESIAS NA GARRAFA NA PRAIA DE LUIS CORREA, NA PARNAÍBA-PIAUÍ  Entre o Delta do Parnaíba e a Praia de Luis Correa no Piauí - POESIA ao mar - Janeiro de 2017. Por Josette Lassance. Antes de lançar a garrafa com as poesias, retirei da praia trinta e cinco garrafas que possivelmente seriam levadas pelo mar. Infelizmente quase todas as praias do Brasil ainda estão contaminadas pelo descarte do lixo consumido pelos humanos. 
Das neves  Josette lassance outubro de 2016. Conheci DAS NEVES em Limondeua, dentro de um espaço de tempo em que levei minha mãe para um passeio pelas estradas perdidas da Amazônia. Das neves tem sessenta anos e seu marido é um professor de matemática autodidata. Limondeua parece um risco no mapa, um risco quase imperceptível que se perdeu no meio do nada. Mas um dia fora um oásis dentro da floresta e abrigava o rio onde aprendi a nadar. Das neves tomava café quando chegamos, eu, minha mãe e Paulo, um veterinário amigo, conhecido há mais de vinte anos.  Das Neves foi amizade à primeira vista. Daquelas que você se compreende apenas através da alma. Não sou uma pessoa amigável, porque desacredito na formalidade e minha percepção de profundidade é feita de um denso novelo, tecido aos poucos com a convivência.  Porque para mim, amigo é amigo, e não tem tempo ruim quando se é verdadeiro e intenso. Amigo não tem cor, nacionalidade, sexo, idade ou dinheiro, e nada me
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DOG DESERT -  Josette Lassance / tradução Fabíola Marques It is night here in dog desert The wild west world, among enemies and enemies it is a valley… a desert where men get lost From this very place, where the sight splits up, from the view of the dry road to the cattle skull The wooden ranches cut by the railroad I see all the things submerse in its feelings. Things that we always profane, Without any tenderness, evading the bonds of the holy rituals in this lost hour pieces blend and the emptiness fills the horizon nothing beyond a petty life of traps already set   it´s night here in dog desert not even the Jasmin shadows fall over the ground in this dry summer, of huge moons where the wind brings desires wild west world good guys, bad guys and bad guys compensate for one another as equals from this very place, we see them all under sand storms to the rifles and shrapnel of shotguns It is night here in dog desert and the day is
OS PETISCOS DA SILENCIOSA RUA DO AEROPORTO Josette Lassance (2015) Existe um restaurante charmoso ao fundo do aeroporto da Cidade do Porto chamado “Banquinho”. Lá à noite, em plena primavera, com o sol se pondo às nove da noite, um senhor simpático e sua família prepara os mais sonhados petiscos da silenciosa rua. Um neon minúsculo se mistura às folhas da pequena árvore da fachada, sem piscar, onde também no pátio são servidas guarnições de porco, bifes, sopas, bacalhau e legumes. Ali almoçam e jantam os funcionários das empresas aéreas e alguns hóspedes dos hotéis dos arredores. O caminho até o “boteco” é feito de uma alameda larga, onde ao meio um trilho divide a rua da última estação dos “comboios”. O caminho é cercado por casas silenciosas e jardins, onde os muros com suas tonalidades brancas e beges, tornam o ambiente retrô , com ares fotográficos de dos anos 60 e 70. Gosto dessas sensações vibrantes e de suas misturas atemporais – como o barulho de sirenes de usinas
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Colônia de grajas – VILLADANGOS DEL PÁRAMO (caminho francês) Josette Lassance, 2016 Assim que resolvi ficar, o céu não estava azul. Fiquei porque quis pensar melhor no que faria depois dali. Dentro da paisagem me cabia um olhar singular e havia ternura como limite, e depois mais nada. Talvez as mágoas de uns frios pensamentos. A cidade parecia pequena, e perto da estação sentei num banco de rua. Uma árvore próxima abrigava corvos e seus ninhos. Era início da primavera e pareciam agitados. A cidade parecia morta. Aos poucos o calor diminuía e as parcas casas iam fechando suas portas. Um silêncio parecia me engolir. Fiquei sentada no banco até o anoitecer. Abri o vinho e tomei dois goles num copo de vidro. Minha boca gordurosa havia marcado a transparência vazia de sua borda. As aves mais graúdas bicavam as menores. Os filhotes negros abriam os bicos aguardando minúsculos pedaços de carnes trazidos pelas fêmeas. O céu voltou a ficar azul, adornando as extremidades